Resumo:
No Brasil e no Estado de Mato Grosso do Sul, a modernização da agricultura, com a utilização de tecnologias intensivas em insumos químicos, aconteceu sem a distribuição de terra. Os benefícios dessas medidas - a chamada Revolução Verde - foram extremamente desiguais em termos de sua distribuição, pois os maiores e mais ricos agricultores, que controlam o capital e as terras férteis, foram privilegiados, em detrimento dos agricultores mais pobres e com menos recursos. Além disso, a Revolução Verde também contribuiu para disseminar problemas ambientais, como erosão do solo, desertificação, poluição por agrotóxicos e perda da biodiversidade. Com isso, embora tenha se elevado sobremaneira a produtividade das culturas, a miséria, a escassez de alimentos básicos, a desnutrição, o declínio nas condições de saúde e a degradação ambiental intensificaram-se. Em contraposição a esse modelo produtivista, a Agroecologia integra os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e à sociedade como um todo. Assim, ela ultrapassa a visão unidimensional, ou seja, genética, agronômica e edafológica, incluindo dimensões ecológicas, econômicas, políticas, sociais e culturais. Além disso, a Agroecologia propõe premissas de desenvolvimento endógeno, ou seja, de baixo para cima e de dentro para fora, que respeite as dinâmicas existentes nas comunidades e incorpore o saber popular no processo de formação do conhecimento. No aspecto tecnológico, a Agroecologia busca corrigir as distorções trazidas pela Revolução Verde, resgatando os princípios básicos e estratégicos da chamada agricultura tradicional, baseados na vivência e na prática acumulada historicamente pelos camponeses. A Agroecologia, no entanto, não prescinde da incorporação de alguns importantes e autênticos avanços da ciência moderna na compreensão dos fenômenos naturais, porém articula-os em um processo mais amplo de interesse social, tecnológico, político, cultural e ambiental. Apesar de existirem, no Estado de Mato Grosso do Sul, várias ações e iniciativas de diferentes naturezas sobre Agroecologia, envolvendo agricultores, organizações não- governamentais, instituições de pesquisa, universidades, movimentos sociais, fóruns interinstitucionais, com destaque para o Idaterra, que coordena o Programa Estadual de Agroecologia, as mesmas ainda são muito incipientes face ao modelo agrícola dominante. Embora essas ações tenham contribuído para o início da construção das bases para o desenvolvimento da Agroecologia no Estado, faz-se necessário intensificar outras iniciativas para fortalecer a visão agroecológica em Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, a formulação de propostas para o desenvolvimento da Agroecologia no Estado de Mato Grosso do Sul, elaboradas a partir do 1° Seminário de Agroecologia do Mato Grosso do Sul, é uma contribuição efetiva para impulsionar a construção de um outro modelo agrícola em nosso Estado.