Produtores rurais continuam praticando a queimada mesmo depois de tanta campanha contra o uso do fogo para fins agropecuários em nosso país. Surge, então, uma dúvida que precisa ser respondida: estes mesmos produtores o fazem por tradição ou não entendem o conteúdo das referidas campanhas de educação e repressão veiculadas amplamente em toda a mídia? Ao mesmo tempo, surgem embates envolvendo o povo do campo, os profissionais do fogo e as autoridades brasileiras, cada um defendendo o seu ponto de vista sobre o assunto. Nesse contexto, essa investigação oferece uma descrição sobre a natureza cultural e histórica da prática das queimadas no Brasil além de demonstrar o conflito de interpretação existente entre a concepção técnico-científica e a popular, particularmente, o conflito sobre a noção de risco, além de investigar os motivos que levam o produtor rural a perpetuar o uso dessa prática agrícola em suas propriedades; Verificou-se, no decorrer da pesquisa, que a noção de risco assinalada pela Ciência e Estado está fundada em bases sólidas de informação sobre perigos e riscos que podem ser mensurados, enquanto que para pequenos produtores rurais do norte de Minas esta noção está mais vinculada aos sentidos, naquilo que pode ser visto e tocado. Frente a frente, vemos dois lados argumentando sem se chegar a um consenso ou a uma linguagem traduzível em ações favoráveis ao terceiro elemento: a natureza. Dentre as observações verificadas, a queimada representa a continuidade da reprodução sócio- economica-cultural dos pequenos produtores com fortes traços de necessidade prática, simbolismo e sobrevivência. Embora se note um consenso entre produtores e Estado sobre a proteção dos recursos naturais, o acirramento do debate em torno das queimadas se prende ao fato de os produtores estarem divididos entre “preservar” e “morrer de fome”. Em última instância, os pequenos produtores, que vivem diretamente do contato com a terra, satisfazem em primeiro lugar as suas necessidades para, em seguida, se possível, atender as exigências da Lei e da Ciência.
Rural producers have been still using the burning even after so much advertisements against its use to agricultural purposed in our country. One doubt seems then and it is necessary there is an answer to it: have the small producers used it by tradition or they don’t understand the content of the referred education and repression advertisements, so widely showed in al the media? Simultaneously, discussions have appeared covering both the rural people and fire professionals as well as Brazilian authorities, each part defending its opinion about the subject. Into this context, this study has offered one description about the cultural and historical nature of the burnings in Brazil besides of demonstrating the conflict of existent interpretation between the technical and scientifical conception and the popular one, in particular the conflict about the concept of risk , beyond investigating the reasons that lead the rural producers to perpetuate the use of this agricultural practice in their farms. It was verified, during the solidification of the research, that this concept of risk evidenced by the Science and by the State is fundamented in solid bases of information about dangers and risks, all of them measurable, while the small-scale producers from the North of Minas Gerais, this concept has been linked to the senses, in what can be seen or touched. Face to face, we can see two interested parts discussing without arriving to one solution or to one translatable language into favorable actions to the third element: the nature. In the middle of the verified observations, the burning has represented the continuity of the social-economical-cultural reproduction from these producers with strong traces of practical needing, symbolism, and surviving. Although it is observed one common consense between protection of the natural resources, the them and the State about the stirring of the discussing about the burnings is linked to the fact of the producers are divided between the verbs “ to preserve” and “ to die by starving”. In one last possibility, the producers, who live directly in contact with the earth, satisfy at first moment their necessities and, then, if it is possible , admit the exigencies of the Law and of the Science.