Na Reserva Extrativista (RESEX) do Rio Jutaí, Amazonas – Brasil (67° 03’ 07.78’’ W e 03° 04’ 50,79’’ S) os moradores manifestam expectativas e mudanças no manejo de andiroba (Carapa spp.). Esse fato chama a atenção, pois a RESEX não é distinguida por alta abundância da árvore ou por elevada comercialização de seus produtos, pelo que foram formuladas perguntas sobre as razões das mudanças, como estão acontecendo e as implicações na conservação e evolução. Aspectos socioeconômicos e de manejo associados à andiroba foram estudados em 31 unidades familiares de 10 comunidades da RESEX, utilizando entrevistas semiestruturadas, observação participante e avaliação de tempos e esforço de trabalho dedicado. A população local atribuiu um alto significado para a espécie, determinado principalmente pelo valor de uso, destacando-se as aplicações em medicina e pesca de matrinchã (Brycon spp.) e outras quatro espécies de peixes. Essa última aplicação é descrita detalhadamente, pois não foi encontrada ampla referência a este respeito na literatura. O manejo da andiroba é realizado em áreas de floresta e é complementado pela maioria das famílias em plantios dentro do sistema produtivo, efetuando algum grau de comercialização, parte deste no interior da RESEX. Análises multivariadas discriminaram um grupo que investe maior tempo e número de pessoas na coleta, tendo maior produção, no entanto com menor rendimento. Não existe tendência à especialização, pelo contrário, as famílias são pluriativas e desenvolvem múltiplas adaptações. Baseados em características morfológicas das sementes foram identificadas quatro morfoespécies de andiroba, sendo provável que uma destas corresponda a uma espécie recente, Carapa vasquezii Kenfack, descrita para a Bacia Amazônica em 2011. As atividades extrativas não produzem efeitos negativos sobre a regeneração nem sobre o estabelecimento de Carapa spp., o que foi avaliado em transectos que compararam diferentes classes de tamanho (plântulas, jovens I e II) em uma população da espécie com e sem manejo, o que somado ao manejo em plantios ou sistemas agroflorestais está favorecendo processo evolutivo da espécie e a paisagem. O fenômeno estudado se encaixa na proposta conceitual do neoextrativismo, na medida em que as práticas estão em transformação e incluem cultivo e beneficiamento. O manejo efetivado sob parâmetros culturais e conhecimento ecológico local está contribuindo na conservação in situ das espécies de andiroba e no logro dos objetivos da unidade de conservação.
In the Extractive Reserve (RESEX) of Jutaí River, Amazonas-Brazil (67 ° 03 '07.78'' W and 03 ° 04' 50.79'' S) villagers expressed expectations and changes in andiroba (Carapa spp.) management. It is amazing this fact because in this reserve is not noticed high abundance of adult trees, neither for high commerce activities of the related products observed there. In this way, questions were formulated about the reasons for the changes, how they are coming about and their implications for conservation and evolution. Socioeconomic and management issues associated with andiroba were studied in 31 households in 10 communities of the extractive reserve. It was used questionnaires with semi-structured interviews, participatory observations and study of working time/effort expended in the activity. Local people gave a great significance for the species, mainly determined by the value in use, especially as medicine and for fishing matrinchã (Brycon spp.) and four other fish. The latter application is detailed in the study because it has not yet described in the current literature. The management is done in forest areas and complemented with plantations by the majority of families as part of a productive system which includes some degree of marketing even within the extractive reserve. Multivariate analysis discriminated a group that invested more time and people during harvesting thus achieving higher production but lower performance. A tendency for specialization is not present. On the contrary, the families perform a diversity of tasks (pluriactivity) and creatively adapt their approaches as needed. Based on seed morphological traits, it was observed four morphospecies of andiroba managed by the extractors, and it is likely that one of these corresponds to a new species, Carapa vasquezii Kenfack, which was described for the first time in the Amazon basin in 2011. The Carapa spp. population was evaluated with sampled transects, focusing on different size classes (seedlings, saplings I and II), with or without management. The results showed that collecting activities do not effect negatively the natural regeneration, neither the establishment of Carapa spp., which added to the management in plantations or agroforestry systems is favoring the evolutionary process of species and landscape.