Resumo:
A idéia de uma ‘agricultura sustentável’ revela, antes de tudo, a crescente insatisfação com o status quo da agricultura moderna. Indica o desejo social de sistemas produtivos que, simultaneamente, conservem os recursos naturais e forneçam produtos mais saudáveis, sem comprometer os níveis tecnológicos já alcançados de segurança alimentar. Resulta de emergentes pressões sociais por uma agricultura que não prejudique o meio ambiente e a saúde. No debate público internacional, a idéia de ‘agricultura sustentável’ tem uma presença muito mais importante do que qualquer outra que lhe seja equivalente. Por exemplo, não há discussão sobre o que poderia vir a ser uma ‘indústria sustentável’. No máximo, pode- se perceber a emergência de um debate sobre a sustentabilidade do consumo, ainda muito restrito a pequenos círculos de especialistas. Qual seria então a razão desse destaque que a ‘agricultura sustentável’ mereceu na agenda das organizações internacionais, mesmo constituindo uma atividade tanto mais ‘residual’ quanto mais avança o processo de desenvolvimento? A resposta baseia-se em fato que não deveria ser tão esquecido como vem ocorrendo. Apesar de seus 10 mil anos, a agricultura permanece sendo a atividade humana que mais intimamente relaciona a sociedade com a natureza. Por mais que se esteja vivendo na ‘aurora de uma nova era’ – rotulada de pós-industrial, pós-moderna, ou pós-escassez – a verdade é que a humanidade continua muito longe de encontrar uma fonte da energia necessária à vida, que dispense o consumo das plantas e dos animais, como ocorre há 2 milhões de anos. Ou seja, por mais que venha a ser revolucionada a esfera da produção alimentar, essa importância singular da agricultura manter-se-á até que surja uma alternativa à transformação biológica de energia solar em nutriente.