A Floresta Atlântica abrange uma quantidade expressiva da diversidade biológica brasileira.
Devido à diversidade, altos níveis de endemismo e o histórico de devastação o Bioma é
considerado um dos hotspots de biodiversidade. Boa parte da Floresta consiste em fragmentos
de pequeno tamanho isolados entre si. Detectar e entender os fatores que contribuem para a
estrutura de comunidades vegetais no contexto dos remanescentes florestais é de suma
importância para conter efeitos deletérios da fragmentação e para o avanço do conhecimento
ecológico concernente às comunidades vegetais. Apesar da existência de estudos de
comunidades vegetais em fragmentos florestais, ainda são poucos os que abordam a estrutura
de comunidades enfocando mais de uma forma de vida de maneira conjunta na região
fluminense. No contexto de uma abordagem um pouco mais abrangente em ecologia de
comunidades este trabalho se insere. Conduzi o estudo em um fragmento florestal da região
Sul do Rio de Janeiro, no Município de Paracambi. Este fragmento é em uma Unidade de
Conservação denominada Parque Natural Municipal do Curió (PNMC) que abrange uma área
de 913,96 ha. Meus objetivos ao longo deste estudo foram: (1) descrever as comunidades
arbóreas e de lianas; (2) verificar as possíveis relações biométricas entre as árvores e lianas,
de forma a detectar se as relações abordadas explicam a estrutura das comunidades; (3)
avaliar a relação entre fatores ambientais e a estrutura das comunidades de árvores e de lianas
buscando entender se processos determinísticos ou estocásticos são mais relevantes e (4)
comparar os padrões apresentados entre as comunidades. O PNMC apresentou 239 espécies
lenhosas. Seus valores de riqueza florística são comparáveis a outros trechos de Floresta
Atlântica no Rio de Janeiro e Região Sudeste. Detectei algumas espécies endêmicas e
ameaçadas de extinção, ressaltando a importância do PNMC para conservação da Floresta
Atlântica. A composição diamétrica das comunidades revelou uma predominância de
indivíduos nas menores classes de diâmetro. A abundância relativa dos indivíduos de ambas
as comunidades indicou a presença de poucas espécies abundantes e muitas espécies com
somente um indivíduo. Esses padrões similares nas comunidades podem indicar que o PNMC
ainda vem se recuperando das intervenções passadas. As relações biométricas entre as duas
comunidades mostraram-se fracas, indicando pouca influência das relações na estrutura das
comunidades. As análises com os fatores ambientais revelaram respostas distintas: a
comunidade arbórea foi influenciada pelos fatores ambientais e a comunidade de lianas não
apresentou relação, denotando existência de processos distintos estruturando as comunidades
lenhosas. A razão dessas distinções atribui às características anatômicas particulares das
árvores e lianas. Os resultados encontrados reforçam o valor de fragmentos florestais como
importantes testemunhos da flora Atlântica e um interessante campo experimental para
elucidar padrões e processos ecológicos. As informações deste trabalho podem servir de
instrumento de manejo e conservação de fragmentos florestais das cercanias e a gestão do
PNMC.