A bacia amazônica sustenta a maior área de florestas tropicais úmidas no mundo. Contudo, nesta região vem ocorrendo elevadas taxas de desmatamento que resulta na perda e fragmentação dos habitats. O processo da fragmentação pode afetar tanto positivamente quanto negativamente o estabelecimento de espécies arbóreas em fragmentos - algumas espécies podem aumentar suas densidades enquanto outras diminuírem ou mesmo se extinguirem localmente. Este trabalho testou os efeitos da fragmentação florestal sobre o estabelecimento de quatro espécies arbóreas, sendo duas espécies de dossel (Eschweilera coriacea e Scleronema micranthum) e duas de sub-bosque (Helianthostylis sprucei e Rinorea racemosa). O trabalho foi realizado na área experimental do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, Amazônia central (2°30’S, 60°O). Foi feita comparação da mortalidade e recrutamento de indivíduos com DAP ≥ 10 cm de cada espécie entre áreas de borda e interior de floresta e diferentes tamanhos de fragmentos e comparação da densidade de indivíduos com DAP de 1 a 9,9 cm entre borda e interior. Enquanto R. racemosa apresentou alta taxa de recrutamento e maior densidade de indivíduos jovens em áreas fragmentadas, H. sprucei apresentou alta taxa de mortalidade e menor densidade de indivíduos jovens. As espécies de dossel apresentaram também respostas distintas à fragmentação. E. coriacea aparentemente não responde às alterações decorrentes do processo de fragmentação. Contrariamente, a demografia e a estrutura populacional de S. micranthum foi alterada em áreas fragmentadas. Para esta espécie, tanto as taxas de recrutamento e mortalidade foram maiores em áreas fragmentadas, porém não houve diferença na densidade média de juvenis entre áreas fragmentadas e contínuas. Os resultados deste estudo mostram que a fragmentação florestal pode levar a efeitos diferenciados no estabelecimento e demografia das espécies arbóreas e que se devem considerar todos os estágios de vida da planta para avaliar apropriadamente os efeitos da fragmentação. Além disso, os resultados deste estudo sugerem que particularidades de história de vida e demográficas, em vez da posição que as espécies ocupam no estrato, determinam a maior ou menor susceptibilidade à fragmentação florestal de cada espécie individualmente.
The Amazon basin maintains the largest proportion of tropical forests in the world. However, this region has been suffering with high rates of deforestation and habitat fragmentation. Forest fragmentation can affect either positively or negatively the persistence of tropical tree species – some species can increase their densities whereas other species can diminish or even to be locally extinct. Here we tested for the effects of forest fragmentation on the establishment of two canopy species (Eschweilera coriacea and Scleronema micranthum) and two understory species (Helianthostylis sprucei and Rinorea racemosa). The study area is the Biological Dynamics of Forest Fragments Project, in central Amazon, Brazil (2°30’S, 60°O). We compared mortality and recruitment rates of individuals ≥ 10 cm DBH between forest edge and interior sites and among different forest fragment sizes and the density of smaller individuals 1.0-9.9 DBH between edge and interior. While R. racemosa showed high recruitment rate and greater density of smaller individuals in fragmented areas, H. sprucei showed high mortality rate and lower density of small individuals. The canopy species E. coriacea apparently does not respond to the changes occurred from the fragmentation processes. In contrast, demography and population structure of S. micranthum was changed in fragmented areas. For this species, both mortality and recruitment rates were higher in fragmented areas, while the density of small trees was similar between fragmented and continuous areas. The results of this study show that forest fragmentation can lead to differentiated effects in the establishment and demography of tree species and that all tree species life stages should be considered to effectively assess the effects of fragmentation on plant populations. Moreover, these findings suggest that life history and demographic traits of each species, rather than the position that a species occupies in the canopy, determine the susceptibility of a species to forest fragmentation