A imensidão da floresta Amazônica cria uma falsa aparência de homogeneidade; no entanto, os organismos da floresta não ocorrem com a mesma probabilidade em todos os locais. Clareiras, em dinâmica de sucessão desde a caída da árvore até o deseparecimento completo da abertura no dossel, criam variação espacial na densidade da vegetação e são importante fonte de heterogeneidade de habitats no interior da floresta. Com o objetivo de entender os efeitos da heterogeneidade de habitat no uso do habitat e na distribuição local de espécies de aves, nós investigamos diferenças de ocupação por aves em áreas de floresta fechada e de clareiras. Testamos previsões sobre ocupação diferencial para 61 espécies de aves de floresta de terra firme na Amazônia Central, norte de Manaus, Brasil. Especificamente, testamos como a ocupação de cada tipo de habitat deve variar entre três categorias pré-determinadas de uso de habitat pelas espécies. Utilizamos gravadores autônomos para coletar dados em 57 pontos de floresta fechada e 50 pontos de clareiras no período de Junho a Outubro de 2010. Nosso contexto analítico, um modelo hierarquico de comunidade que considera a possibilidade de haver falhas na detecção, permitiu inferências robustas sobre diferenças de ocupação entre tipos de habitat, espécies e grupos de espécies. Num senso amplo, nossos resultados não confirmaram as previsões sobre diferenças de ocupação entre os grupos. Em geral, os grupos hipotéticos “favorecem clareiras”, “evitam clareiras” e “neutro” apresentaram probabilidade de ocupação similar dentro do mesmo habitat; apenas um grupo teve ocupação diferente entre os tipos de habitat. No nível específico, apenas 25% das espécies investigadas corroboraram nossas previsões sobre diferenças de ocupação entre habitats. O grupo hipotético que “favorece clareiras” teve as maiores probabilidades de detecção em ambos os habitats. Curiosamente, o grupo hipotético que “evita clareiras” teve maiores probabilidades de detecção em áreas de clareira do que em floresta fechada. Espécies “neutras”, previstas para ocupar qualquer tipo de habitat com a mesma probabilidade, tiveram as maiores probabilidades de detecção em floresta fechada dentre os grupos. De modo geral, as classificações ornitológicas de preferência de habitat utilizadas para formar nossas previsões sobre ocupação não corresponderam a nossas estimativas de campo. Tais resultados ressaltam a necessidade de se testar essas classificações amplamente aceitas de preferência por habitat. Os resultados ressaltam ainda a utilidade de modelos hierárquicos de comunidade para testar hipóteses sobre grupos de espécies.
Use of canopy gaps by birds in the central Amazon: a quantitative approach with imperfect detection. The vastness of Amazon forests creates a false appearance of homogeneity; however, forest organisms do not occur with the same probability in every location. Tree-fall gaps, in dynamic succession from tree fall to complete gap disappearance, create spatial variation in vegetation density and are a strong source of habitat heterogeneity inside the forest. Aiming to understand effects of habitat heterogeneity on habitat use and local distribution of bird species, we investigated differences in site-occupancy by birds in closed forest and in the vicinity of tree-fall gaps. We tested predictions of different occupancy for 68 bird species of terra firme forest of the Amazon Guianan shield, north of Manaus, Brazil. Specifically, we tested how occupancy of each habitat type should vary among three pre-determined species categories of habitat use. We used autonomous recording devices to collect data in 57 closed forest and 50 tree fall gap sites from June to October 2010. Our analytic approach, a multi-species hierarchical community model that accounts for the possibility of detection failure, leads to strong inferences about changes in occupancy between habitat types, species and groups of species. In the broadest sense, our results did not confirm predicted differences in occupancy across groups. In general hypothetical ‘gap-seeking’, ‘gap-avoiding’ and ‘neutral’ groups had similar occupancy probabilities within the same habitat; only one group had different occupancy between habitat types. At the species-level, only 25% of investigated species conformed to predicted occupancy differences between habitat types. Hypothetical ‘gap-seekers’ had the highest detection probabilities in both habitats. Interestingly, hypothetical ‘gap- avoiders’ had higher probability of detection on gap areas than in closed-forest areas. ‘Neutral’ species, those predicted to occupy any habitat type with the same probability, had the highest detection probabilities in closed forest across groups. In general, the ornithological classification of bird habitat preferences used to form our occupancy predictions did not match our field estimates. These results highlight the need to test widely accepted classifications of habitat preference as well as the usefulness of hierarchical community models for testing hypotheses about groups of species.