A maioria dos estudos desenvolvidos com comunidades de anuros é restrita a ambientes aquáticos utilizados para reprodução, como poças e igarapés, o que leva a não descrição da distribuição das espécies ao longo de gradientes ambientais que existem na área como um todo. No presente estudo, investigamos possíveis padrões de distribuição das espécies de anuros em uma área de 25 km2 na Reserva Biológica do Uatumã, analisando quais variáveis ambientais são capazes de prever as mudanças nas comunidades. Descrevemos a composição das espécies de anuros e suas relações com gradientes ambientais em 45 parcelas de 250m de comprimento, sendo 30 parcelas distribuídas uniformemente na área e outras 15 parcelas demarcadas nas margens de igarapés. As variáveis analisadas nas comunidades distribuídas por toda a área foram distância do igarapé, concentração de argila no solo, altitude e densidade de árvores. Nas parcelas ripárias foram analisados o tamanho, velocidade e vazão dos igarapés, largura do baixio e altitude. Determinamos a abundância de cada espécie baseada em três amostragens noturnas em cada parcela realizadas ao longo de uma estação chuvosa (nov/dez2008; jan/fev2009; abr/mai2009). Representamos as variações na composição das espécies entre as parcelas através de um eixo sintético produzido por uma ordenação pelo método de escalonamento não métrico multidimensional (NMDS) sobre a matriz de abundâncias e de presença das espécies. Em seguida, utilizando análises de regressão linear, avaliamos quais variáveis foram capazes de explicar as variações nas composições de espécies. Encontramos 10.727 indivíduos pertencentes a 59 espécies de 11 famílias. A maioria das espécies foi encontrada no início da estação chuvosa, enquanto que a maioria dos indivíduos foi registrada no meio e final da estação. A espécie que apresentou maior número de indivíduos foi Pristimantis fenestratus, seguido de Osteocephalus oophagus, Hypsiboas fasciatus e Leptodactylus aff. andreae. Considerando somente os regristos visuais, as espécies mais abundantes foram Atelopus spumarius, Rhinella proboscidea e Ameerega hahneli. Analisando as parcelas distribuídas uniformemente na área, o eixo 1 NMDS ordenou as parcelas de acordo com o gradiente de distância para a água, partindo de áreas ripárias, passando pelas áreas intermediárias até as áreas de platô. A distância da parcela ao igarapé, altitude, porcentagem de argila no solo e densidade de árvores foram correlacionadas e explicaram a variação na composição das espécies nas comunidades. Analisando somente as parcelas localizadas nas margens de igarapés, ocorreram mudanças na composição das comunidades ao longo de um gradiente que foi de igarapés com maior correnteza e pequena área de baixio para igarapés com menor correnteza e extensas áreas de baixio. Os resultados deste estudo indicam forte influência de fatores ambientais estruturando as comunidades de anuros, quer analisando a área como um todo ou analisando somente as áreas ripárias. A ocorrência de hábitats preferenciais para algumas espécies tem, além de um interesse ecológico, um significado prático para a conservação e manejo destas espécies.
Most studies conducted with communities of frogs are restricted to aquatic environments used for breeding, such as puddles and streams, what precludes describing the species distribution along environmental gradients that exist in the area as a whole. In this study, we investigated possible patterns of species distribution in a 25 km2 area at the Uatumã Biological Reserve, central Amazonia, testing which environmental variables were able to predict changes in anurans communities. We describe the composition of species of frogs and their relations with environmental variables in 45 plots of 250 m in length, from which 30 plots were evenly distributed in the whole area and 15 plots demarcated only on the banks of streams. The environmental variables analyzed in those plots distributed in the whole area were distance of streams, soil clay percentage, altitude and tree density. In the riparian plots were analyzed stream size, speed and flow, floodplain width and altitude. We determined the abundance of each species based on three night samples, in each plot, taken during one rainy season (nov/dez2008; jan/fev2009; abr/mai2009). We represented changes in species composition between the plots by using a synthetic axis produced by non-metric multidimensional scaling (NMDS), a presence and abundance species matrix sorting method. Then, using linear regression analysis, we assessed which variables were able to explain the variations in species composition. We found 10,727 individuals belonging to 59 species of 11 families. Most species were found by the beginning of the rainy season, as most specimens were registered by middle- and end-season. Pristimantis fenestratus was the most common species, followed by Osteocephalus oophagus, Hypsiboas fasciatus and Leptodactylus andreae. By visual recognition only the most common species was Atelopus spumarius, followed by Rhinella proboscidea e Ameerega hahneli. Analyzing those evenly distributed plots in the area, the NMDS axis 1 ranked the plots according to a stream distance gradient, that begins at the riparian areas, through the intermediate areas and reaching the plateaus areas. Stream distance to the plot, altitude, clay percentage, and tree density were correlated and used to explain changes in community composition. By only analyzing plots located on the banks of streams, changes in communities composition occured in a gradient that ranged from high speed streams and small floodplain area to slow speed streams with extensive floodplain area. The results of this study indicate a strong influence of environmental factors that determine the structure of frog communities, whether by analyzing the area as a whole, or analyzing only its riparian parts. The occurrence of preferred habitats for some species has, beyond its ecological significance, a practical meaning for these species management and conservation.