A flutuação dos recursos limita organismos de diferentes grupos de plantas e animais. Embora bem estudada entre os frugívoros de pequeno porte em ambientes temperados, como aves e roedores, a relação entre a flutuação e qualidade dos frutos e seus efeitos na ecologia dos grandes frugívoros tropicais, em florestas sazonais ainda não são bem conhecidos. A exuberância e alta diversidade das florestas tropicais podem criar uma falsa impressão de fartura contínua de alimentos, mas como ocorre em outros ambientes, estas florestas também atravessam períodos relativamente longos de escassez, impondo limitações aos frugívoros. Neste estudo, os efeitos da escassez de frutos na ecologia dos primatas foram avaliados na Estação Ecológica de Maracá (ESEC Maracá), uma floresta altamente sazonal no norte da Amazônia, com especial atenção para a ecologia alimentar de um primata ameaçado, Ateles belzebuth. Levantamentos da abundância dos primatas, frutos e frugivoria foram realizados concomitantemente através do método de transecção linear. Amostras dos frutos foram coletadas para avaliação morfológica e nutricional. Adicionalmente um estudo detalhado da ecologia alimentar de um grupo de A. belzebuth foi realizado. A abundância dos frutos, especialmente da família Sapotaceae, influenciou positivamente a distribuição dos primatas que se concentraram em locais com grande abundância de frutos, mas apenas durante o período de escassez. A concentração de lipídio e cinzas determinou se um fruto seria ou não consumido por esta espécie durante a seca. Embora estes nutrientes tenham influenciado a escolha dos frutos, a comparação do perfil nutricional dos frutos consumidos e disponíveis indicou que os nutrientes são consumidos de acordo com sua disponibilidade local. Os resultados de um experimento natural com quatro espécies de frutos consumidos por um grande número de frugívoros na área de estudo, incluindo A. belzebuth, mostraram que secas severas parecem não afetar a quantidade de polpa produzida por estes frutos. Finalmente, o registro confiável da riqueza de mamíferos frugívoros em Maracá necessitou de um esforço amostral maior do que o proposto previamente em outras florestas da Amazônia, devido ao grande número de espécies pouco abundantes encontradas nesta assembleia. Embora, limitados pela escassez dos recursos alimentares durante longos períodos na ESEC Maracá, os frugívoros parecem adotar estratégias de maximização de energia e minimização de tempo para contornar estes períodos críticos. Eles investem seu esforço de forrageamento em locais com grande oferta de frutos daquelas espécies abundantes, e consomem frutos com alto retorno energético oportunisticamente.
The fluctuation of food resources limits plants and animals. Although well studied among small frugivores in temperate regions, such as birds and rodents, the relationship among the fluctuation of resources, quality, and their effects on the ecology of large tropical frugivores in seasonal forests remains largely unknown. The exuberance and high diversity of tropical forests give a faux idea of continuous abundance of food resources, but as seen in other environments, these forests also go through relatively long periods of shortage, imposing limitations to frugivores. Here, I investigate the effects of fruit shortage on the ecology of frugivorous primates at Maracá Ecological Station (MES), a highly seasonal forest in the northern Amazonia, mainly concerning the feeding ecology of an endangered primate, Ateles belzebuth. Surveys on primate and fruit abundance and frugivory was carried out concomitantly through line-transect method. Fruit samples were collected to the assessment of morphological and nutritional assays. Additionally, a detailed study on the feeding ecology of a well habituated group of A. belzebuth was carried out. The abundance of fruits, especially those of Sapotaceae, positively influences primate abundance, which concentrates in spots with high abundance of fruits, but only during fruit shortages. Lipid and ash content significantly determines whether or not a fruit was eaten by spider monkeys during shortage periods. Although these nutrients influenced fruit choices, a comparison of the nutritional profile of fruits consumed by spider monkeys and that of fruits available in the local plant pool indicated that nutrients were consumed according to their local availability. A natural experiment concerning pulp variation in four fruits often consumed by several frugivores in the study site, including A. belzebuth, showed that unusual droughts do not appear to affect the amount of pulp produced. Finally, a relatively large sampling effort is needed to reach survey completeness in species-poor sites such as in the study site than required in other Amazonian sites, possibly due to the relatively large number of low abundant species in this assemblage. Although limited during relatively long periods of fruit shortage, the frugivorous primates at MES appear to adopt both strategies of energy maximization and time minimization to circumvent such critical periods. Primates invest their foraging efforts in places with high fruit supply of abundant species, and consume high energy fruits in an opportunistic way.