O trabalho apresentado integra o Projeto Fogo, realizado pela Universidade de Brasília, em parceria com a Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com o objetivo de avaliar os efeitos de queimadas prescritas na vegetação do Cerrado. Existem diversas publicações sobre os cerrados do Brasil Central e alguns comparativos de biomassa de raízes em diferentes fisionomias, mas este estudo traz foco para os efeitos cumulativos do fogo no cerrado sensu stricto. Resultados de 15 anos do Projeto Fogo (UnB/IBGE) indicam que áreas submetidas a queimadas em diferentes épocas e freqüências têm características distintas. Os quatro regimes de queima usados nas quatro áreas de cerrados sensu stricto do Projeto são: bienal precoce (queima a cada dois anos, em junho), bienal modal (em agosto), bienal tardia (em setembro) e quadrienal (a cada quatro anos, em agosto). As quatro áreas de estudo estão sob estes regimes desde 1990 e tinham similaridade de pelo menos 65% entre elas antes do início das queimadas. A biomassa de raízes finas até 5 mm de diâmetro foi obtida com trado nas profundidades de 0-10 cm, 10-20 cm, 20-30 cm e 30-50 cm e comparada entre regimes por análises de variância com nível de significância de 5%. Parâmetros para a biomassa aérea – estrato arbóreo-arbustivo; cobertura vegetal arbórea; e estrato rasteiro: componentes grama, não-grama e serrapilheira - também foram obtidos com a finalidade de estabelecer perfis de biomassa para os quatro regimes. A biomassa da área bienal precoce foi de 16,1±9,9 Mg/ha (arbóreo- arbustivo), 6,7±2,6 Mg/ha (rasteiro), 15,3±7,0 Mg/ha (raízes grossas) e 21,5±15,6 Mg/ha (raízes finas), com densidade de indivíduos de 1742 (diâmetro ≥ 5,0cm) e 3740 (diâmetro ≥ 1,0 cm) e cobertura vegetal de 16,5%. Para a bienal modal, os valores foram de 23,8±12,6 Mg/ha (arbóreo-arbustivo), 6,2±0,9 Mg/ha (rasteiro), 20,2±5,3 Mg/ha (raízes grossas) e 25,3±8,8 Mg/ha (raízes finas), com densidade de indivíduos de 1106 (diâmetro ≥ 5,0cm) e 6644 (diâmetro ≥ 1,0 cm) e cobertura vegetal 13,6%. Para a bienal tardia, 17,2±5,2 Mg/ha (arbóreo-arbustivo), 7,0±1,1 Mg/ha (rasteiro), 20,1± 2,2 Mg/ha (raízes grossas) e 19,6±10,4 Mg/ha (raízes finas), com densidade de indivíduos de 1014 (diâmetro ≥ 5,0cm) e 6405 (diâmetro ≥ 1,0 cm) e cobertura vegetal 7,8%. Para a quadrienal, 18,2±5,6 Mg/ha (arbóreo-arbustivo), 10,4±2,2 Mg/ha (rasteiro), 19,9±4,8 Mg/ha (raízes grossas) e 22,0±8,0 Mg/ha (raízes finas), com densidade de indivíduos de 1074 (diâmetro ≥ 5,0cm) e 4456 (diâmetro ≥ 1,0 cm) e cobertura vegetal 10,0%. Os resultados mostram diferença entre áreas apenas na parte aérea, o que indica que o regime de fogo não traz diferença entre áreas para a biomassa fina de raízes. Os valores encontrados para biomassa de raízes finas econtram-se na margem superior dos valores descritos para literatura de cerrado sensu stricto e, no caso da modal, são superiores aos da literatura. Isto poderia ser reflexo da entrada de gramíneas nos sistemas queimados, mas a biomassa de raízes não apresentou relação (R2 < 0,2) com a biomassa do estrato rasteiro nem com a biomassa de grama.
This work is part of Projeto Fogo, coordinated by University of Brasilia with support of the Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. The project aims to asses the effects of prescribed burning in the cerrado vegetation, a type of Brazilian savannas. There are several publications on savannas of Central Brazil and a few comparisions of root biomass in different phytophisiognomies; this study focuses on cumulative effects of prescribed burning in cerrado stricto sensu. Results from 15 years of Projeto Fogo show that different seasons and frequencies of burning have influence on fire characteristics, on its effects and on the capacity to resist fire or recover from it. Fire regimes (treatments) used in four study areas were: bienal precoce (every two years burning, in June), bienal modal (in August), bienal tardia (in September) and quadrienal (every four years burning, always in August). These four areas are under these regimes since 1990 and before the burning treatments, there were at least 65% similarity among them. Fine root biomass (5mm diameter) was determined at 0-10 cm, 10-20 cm, 20-30 cm and 30-50 cm depth and analysed with 5% significance analysis of variance. Aboveground biomass - tree-and-shrub layer, litter, tree cover and groud layer: herbaceous and non herbaceous contents - were determined in order to establish biomass profiles for all four areas. Biomass for bienal precoce was 16,1±9,9 Mg/ha (tree-and-shrub), 6,7±2,6 Mg/ha (ground layer), 15,3±7,0 Mg/ha (core root biomass) and 21,5±15,6 Mg/ha (fine root biomass); tree density were 1742 (diameter ≥ 5,0cm) and 3740 (diameter ≥ 1,0cm) and tree cover was 16,5%. For bienal modal, values were 23,8±12,6 Mg/ha (tree-and-shrub), 6,2±0,9 Mg/ha (ground layer), 20,2±5,3 Mg/ha (core root biomass) and 25,3±8,8 Mg/ha (fine root biomass), tree density were 1106 (diameter ≥ 5,0cm) and 6644 (diameter ≥ 1,0cm), tree cover was 13,6%. Para a bienal tardia, 17,2±5,2 Mg/ha (tree-and-shrub), 7,0±1,1 Mg/ha (ground layer), 20,1± 2,2 Mg/ha (core root biomass) e 19,6±10,4 Mg/ha (fine root biomass), tree density were 1014 (diameter ≥ 5,0cm) and 6405 (diameter ≥ 1,0 cm), tree cover 7,8%. For quadrienal, 18,2±5,6 Mg/ha (tree-and- shrub), 10,4±2,2 Mg/ha (ground layer), 19,9±4,8 Mg/ha (core root biomass) and 22,0±8,0 Mg/ha (fine root biomass), tree density were 1074 (diameter ≥ 5,0cm) e 4456 (diameter ≥ 1,0cm), tree cover was 10,0%. Results show difference among study areas in aboveground biomass, but not in fine root biomass. Fine root biomass results are in the upper limit of values described for the cerrados sensu stricto, and, for the modal area, fine root biomass values are above registered values. One might think that this could be related to greater biomass of grass in burned systems, but fine root biomass did not show correlation (R2 < 0,2) neither with groud layer biomass nor with grass biomass.