A apropriação dos parques nacionais para fins de visitação é permeada por diferentes interesses ambientais e socioeconômicos, entre as esferas pública e privada, que influenciam a conservação e o uso sustentável da biodiversidade. O Estado, para propiciar o uso público dos parques nacionais, delega a terceiros a prestação de serviços de apoio à visitação, engendrando um viés mercadológico e a valoração econômica dos serviços prestados por estas áreas. Com o objetivo de compreender a dinâmica de prestação de serviços de apoio à visitação, foi realizado o levantamento de informações primárias junto aos gestores dos parques nacionais e aos prestadores de serviços e visitantes do Parque Nacional do Itatiaia (Rio de Janeiro / Minas Gerais) e do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (Bahia). A situação do primeiro parque nacional brasileiro, o Parque Nacional do Itatiaia, no que diz respeito à regularização fundiária e aos conflitos entre as esferas pública e privada, é emblemática e evidencia diversos interesses que fragilizam os objetivos de sua criação. O caso do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos se revelou como um excelente campo de estudo para problematizar o duplo papel do visitante – cidadão e consumidor – na dinâmica de visitação. O resultado da pesquisa junto aos gestores dos parques nacionais demonstrou que a prestação de serviços de apoio à visitação é incipiente e limitada, principalmente quanto à formalização e à adoção das diferentes modalidades para o seu desenvolvimento (concessão, permissão, autorização e parcerias com organizações da sociedade civil). Uma das principais reflexões da pesquisa sugere que, dependendo do posicionamento e controle por parte do Estado, a prestação de serviços nos parques nacionais por terceiros pode influenciar a compreensão dos visitantes sobre o espaço público e dificultar a definição de papéis claros e objetivos entre as instâncias envolvidas. É nesse contexto que o descompasso entre os interesses econômicos e os imperativos de ordem ambiental, como a capacidade de suporte, e de ordem social, como a democratização do acesso aos parques nacionais, coloca em questão a função pública destas áreas. Esta tese oferece elementos para repensar os limites entre o público e o privado na apropriação da biodiversidade, protegida nos parques nacionais. A compreensão dos desafios que permeiam essa relação permite apontar caminhos para a visitação nos parques nacionais que valorizem o ‘público’ na sua relação com o ‘privado’, e que aproximem o ‘privado’ do ‘público’ no que diz respeito ao acesso e à repartição equitativa dos benefícios vinculados à utilização da biodiversidade.
La apropiación de los parques nacionales para visitación está involucrada en diferentes intereses ambientales y socioeconómicos, entre las esferas pública y privada que influyen en la conservación y en el uso sostenible de la biodiversidad. El Estado, para propiciar el uso público de los parques nacionales, delega en terceros la prestación de servicios de apoyo a la visitación, concediéndole un sesgo mercadológico, así como la valoración económica de los servicios ofrecidos por estas áreas. Con el objetivo de entender la dinámica de prestación de servicios de apoyo para la visitación, se ha realizado un análisis de informaciones primarias con los gestores de los parques nacionales y prestadores de servicios y visitantes del Parque Nacional de Itatiaia (Rio de Janeiro / Minas Gerais) y del Parque Nacional Marino de Abrolhos (Bahia). La situación del primer parque nacional brasileño, el Parque Nacional de Itatiaia, en lo referente a la regularización de tierras y a los conflictos entre las esferas pública y privada, es emblemática y evidencia diversos intereses que fragilizan los objetivos de su creación. El caso del Parque Nacional Marino de Abrolhos se ha revelado como un excelente campo de estudio para problematizar el doble papel del visitante – ciudadano y consumidor-- en la dinámica de visitación. El resultado de la investigación con los gestores de los parques nacionales ha demostrado que la prestación de servicios de apoyo a la visitación es incipiente y limitada, principalmente en lo que se refiere a la formalización y a la adopción de las diferentes modalidades para su desarrollo (concesión, permisión, autorización y colaboraciones con organizaciones de la sociedad civil). Una de las principales reflexiones de la investigación sugiere que, dependiendo de la posición y control por parte del Estado, la prestación de servicios en los parques nacionales por parte de terceros puede modificar la comprensión de los visitantes sobre el espacio público y dificultar la definición de papeles claros y objetivos entre las instancias involucradas. Es en este contexto donde se produce un descompaso entre los intereses económicos y los imperativos de orden ambiental, como la capacidad de suporte, e de orden social, como la democratización del acceso a los parques nacionales, pone en tela de juicio la función pública de esas áreas. Esta tesis ofrece elementos para repensar los límites entre lo público y lo privado en la apropiación de la biodiversidad protegida en los parques nacionales. La comprensión de los desafíos que constituyen esa relación permite señalar direcciones para visitación en los parques nacionales que valoricen lo ‘público’ en su relación con lo ‘privado’ y que aproximen lo ‘privado’ a lo ‘público’ en lo referente al acceso y a la repartición equitativa de los beneficios vinculados a la utilización de la biodiversidad.
The appropriation of national parks for visitation purposes encompasses different environmental and socioeconomic interests, within the public and private spheres, which influence the conservation and sustainable use of biodiversity. The Government, in order to enable the public use of national parks, delegates the responsibility of providing services to support visitation to third parties, bringing forth a market-based perspective and the economic valuation of services rendered by these areas. With the aim of understanding the dynamics of rendering services to support visitation, a survey of primary information was carried out with the managers of the national parks as well as the service providers and visitors of Itatiaia National Park (Rio de Janeiro / Minas Gerais) and Abrolhos Marine National Park (Bahia). The situation of the first Brazilian national park, Itatiaia National Park, with respect to land tenure and conflicts between the public and private spheres, is symbolic and reflects several interests that weaken the objectives of its creation. The case of Abrolhos Marine National Park was an excellent field of study to identify problems in the dual role of the visitor – citizen and consumer – in the dynamics of visitation. The results of the research with the national park managers proved that the rendering of services to support visitation is incipient and limited, especially with respect to the formalization and adoption of different modalities for its development (concession, permits, authorization, and partnerships with civil society organizations). One of the main findings of the research suggests that, depending on the position and control of the Government, the rendering of services in national parks by third parties can influence the visitor’s understanding of the public space and hamper the definition of clear roles and objectives amongst those involved. Within this context, the dissonance between economic interests and environmental imperatives, such as carrying capacity, and social aspects, such as the democratization of access to national parks, raises the concern of the public functions of these areas. This thesis offers elements to rethink the limits between public and private in the appropriation of biodiversity protected in national parks. Understanding the challenges surrounding this relationship point to paths in which visitation of national parks value the ‘public’ in its relation to the ‘private’, and approaches the ‘private’ and ‘public’ when it comes to access and equal sharing of benefits related to the use of biodiversity.
L’appropriation des parcs nationaux pour l’accès des visiteurs est empreinte d’intérêts environnementaux et socioéconomiques différents pour les sphères publique et privée, qui exercent une influence sur la préservation et l’utilisation durable de la biodiversité. Dans le but de permettre l’utilisation publique des parcs nationaux, l’État délègue à des tiers la prestation de services d’assistance aux visiteurs, laquelle comporte un aspect mercantile et une évaluation économique des services fournis. Pour comprendre la dynamique de la prestation de services d’assistance aux visiteurs, un relevé d’informations primaires a été fait auprès des gestionnaires des parcs nationaux ainsi que des prestataires de services et des visiteurs du Parc National d’Itatiaia (Rio de Janeiro / Minas Gerais) et du Parc National Marin des Abrolhos (Bahia). En ce qui concerne la régularisation foncière et les conflits entre les sphères publique et privée, la situation du Parc National d’Itatiaia, le premier parc national brésilien, est emblématique et met en évidence les intérêts divergents qui fragilisent les objectifs de sa création. Le cas du Parc National Marin des Abrolhos s’est montré un excellent champ d’étude pour exposer le problème du double rôle du visiteur – citoyen et consommateur – dans la dynamique de la visite. Le résultat de l’enquête auprès des gestionnaires des parcs nationaux a démontré que la prestation de services d’assistance aux visiteurs est encore balbutiante et limitée, principalement en ce qui concerne la formalisation et l’adoption de diverses modalités en vue de leur développement (concession, permission, autorisation et accords de partenariat avec des organisations de la société civile). Une des principales réflexions qui émergent de cette recherche suggère que, suivant la prise de position et le contrôle exercé par l’État, la prestation de services par des tiers dans les parcs nationaux peut exercer une influence sur la compréhension des visiteurs quant à l’espace public, et compliquer la définition de rôles clairs et objectifs des organismes impliqués. C’est dans ce contexte que les divergences entre les intérêts économiques et les impératifs d’ordre environnemental, tel que la capacité de charge, et d’ordre social, tel que la démocratisation de l’accès aux parcs nationaux, remet en question la fonction publique de ces domaines. Cette thèse propose des éléments pour repenser les limites entre le public et le privé dans l’appropriation de la biodiversité protégée des parcs nationaux. La compréhension des enjeux qui s’entremêlent dans cette relation permet d’indiquer des voies en ce qui concerne la visite des parcs nationaux, qui mettent en valeur le ‘public’ dans sa relation avec le ‘privé’ et qui rapprochent le ‘privé’ du ‘public’ pour ce qui est de l’accès et de la répartition équitable des bénéfices liés à l’utilisation de la biodiversité.