Farmacopéias tradicionais são ―instituições sociais‖ imprescindíveis para a manutenção das sociedades tradicionais. Sua construção e manutenção sofrem influências multifatoriais que variam desde aspectos culturais como construção cultural da sociedade, religião predominante e até estrutura social, além de fatores ambientais como vegetação circundante, sazonalidade climática e disponibilidade de recursos. Durante a história, muitos sistemas médicos foram desenvolvidos por estas sociedades, e estes influenciaram a formação destas farmacopéias direcionando quais critérios seriam mais valiosos na seleção das plantas. Com o contato intercultural, muitas sociedades passaram a incorporar elementos exóticos, estas plantas exóticas, permitiram reformulações em sua composição de espécies para que houvesse uma manutenção das farmacopéias. Com isso, muitas foram as interpretações para a presença maciça destas. A importância de plantas exóticas com uso medicinal tem sido historicamente negligenciada por meio de interpretações simplistas sobre as causas de sua introdução em farmacopéias tradicionais, visto que, poucos são os trabalhos que se preocuparam em apontá-las nas listas etnoflorísticas, apenas desprezado-as nas análises. Muitas vezes, a presença de plantas exóticas em farmacopéias tradicionais é vista como um simples fenômeno de aculturação ou até mesmo como uma erosão de conhecimento. Entretanto, faz-se necessário compreender quais são os eventos da introdução e até mesmo da deleção de plantas medicinais por uma determinada cultura. Sabemos que as plantas exóticas têm uma importante contribuição em farmacopéias de sociedades tradicionais de todo o mundo, sendo talvez o elemento mais abundante. São interesses deste trabalho revisar as diferentes interpretações sobre os aspectos inerentes a construção e preservação de farmacopéias e a presença de plantas exóticas nelas.
Traditional pharmacopoeias are "social institutions" essential for the maintenance of traditional societies. Its construction and maintenance suffer multifactorial influences ranging from cultural aspects as cultural construction of society, dominant religion and even social structure include environmental factors such as surrounding vegetation, climate and seasonal availability of resources. Throughout history, many medical systems were developed by these societies, and these influenced the formation of these pharmacopoeias directing criteria that would be most valuable in the selection of plants. With intercultural contact, many societies started to incorporate exotic plants for the maintenance of pharmacopoeias. Therefore, there were many interpretations of the massive presence of these. The importance of exotic plants with medicinal purpose has been historically neglected by simplistic interpretations of the causes of their introduction in traditional pharmacopoeias, since there are few papers that bothered to point them in the etnofloristic lists just ignored them in analysis. Often, the presence of exotic plants in traditional pharmacopoeias is seen as a simple phenomenon of acculturation, or even as an erosion of knowledge. However, it is necessary to understand what events that drive the introduction and even deletion of a medicinal plant by a particular culture. We know that exotic plants have an important contribution in pharmacopoeia of traditional societies around the world. Probably, these plants are the most abundant element. Objective of this study is to review the different interpretations on aspects related to construction of pharmacopoeias and the presence of exotic plants.