O Cerrado é composto principalmente por formações savânicas. Formações
florestais também estão presentes, algumas delas margeando os rios e formando
galeria (matas de galeria). Estes dois tipos de fisionomias coexistem formando
regiões de transições, sendo que algumas espécies de mata também sobrevivem no
cerrado. Neste estudo foram analisados aspectos das relações hídricas e morfo-
anatomia do caule de sete pares congenéricos, cada par consistindo de uma
espécie de savana (cerrado) e outra de floresta (mata de galeria) do mesmo gênero.
O estudo foi conduzido na Reserva Ecológica do IBGE. Mediu-se a espessura da
casca interna e da casca externa dos pares congenéricos e foi verificado que as
espécies de cerrado possuem a casca total (externa + interna) duas ou até três
vezes mais espessa do que seus respectivos pares congenéricos de mata. Não
houve diferença quanto a porcentagem de casca interna em relação ao raio da
árvore, mostrando que a diferença em espessura da casca para o grupo funcional é
relacionada à maior espessura de casca externa nas espécies de cerrado. A grande
diferença nos potenciais hídricos de ramos cobertos (não-transpirando) e ramos
expostos (transpirando) medidos no final da estação seca indica que não ocorreu
reidratação completa dos compartimentos do caule durante a noite. A capacidade de
armazenamento de água no caule (no xilema secundário e na casca interna), das
espécies de mata e de cerrado foi medida. A capacitância foi semelhante entre os
dois grupos funcionais, tanto para a casca quanto para o xilema. As espécies
congenéricas também apresentaram um padrão semelhante de armazenamento e
liberação da água armazenada em ambos os tecidos (casca interna e xilema).
Curvas pressão-volume foram analisadas e mostraram que as espécies de mata e
cerrado não diferiram quanto aos potenciais osmóticos no ponto de saturação
xiii
hídrica e nem no ponto de perda de turgor, indicando que as espécies de mata
possuem capacidade semelhante às do cerrado em minimizar os efeitos dos déficits
hídricos. O estudo da anatomia da madeira (xilema) e sua relação ao
armazenamento de água neste tecido no caule também foi analisado. Para o
conjunto de espécies, quanto maior a porcentagem de área transversal ocupada por
parênquima, maior foi a capacitância do xilema. Apesar dos valores semelhantes de
capacitância entre os dois grupos funcionais, as espécies de cerrado possuem uma
maior área ocupada por parênquima do que as espécies de mata, provavelmente
devido à diferente elasticidade deste tecido entre os dois grupos funcionais. Em
termos estruturais, quanto maior a porcentagem de área ocupada pela parede das
fibras, maior a densidade da madeira. A porcentagem de área transversal ocupada
pelos vasos foi igual para os dois grupos funcionais. As características anatômicas
foram em grande parte conservadas dentro do gênero. Portanto, a maioria das
características relacionadas ao estoque hídrico de caule não diferem entre os dois
grupos funcionais. As variações podem ser atribuídas a diferenças entre os gêneros,
com
pouca
convergência
nos
atributos
relacionados
à
capacidade
de
armazenamento de água no caule em nível de grupo funcional.
The Cerrado is mainly composed of savannas. Forest is also found, some of these
forests border rivers and thus are called gallery forests. Both phytophysiognomies
coexist in transition zones, in which forest species have established in the savanna.
In this study, aspects of water relations and bark morph-anatomy of seven
congeneric pairs, each pair consisting of one savanna species and one gallery forest
species, were analyzed. The study was performed at the Ecological Reserve of
IBGE. The thickness of the inner and outer bark of the congeneric pairs was
measured and it was verified that cerrado species have a total (outer + inner) bark
thickness two or three times thicker than their respective forest congener. There was
no difference in the percentage of inner bark in relation to the radius of the tree,
showing that the difference in bark thickness for functional group is related to the
greater thickness of the outer bark in cerrado species. The large difference in water
potential of covered (non-transpiring) and exposed branches (transpiring) measured
at the end of the dry season indicate that complete nighttime rehydration of stem
compartments does not occur. The capacity to store water in the stem (in the
secondary xylem and in the inner bark) of forest and savanna species was
measured. The capacitance was similar in both functional groups, for bark and for
xylem. The congeneric species have also showed a similar pattern of storage and
release of water stored in both tissues (inner bark and xylem). Analysis of pressure-
volume curves revealed that forest and savanna species do not differ in their osmotic
potential at the water saturation point or at turgor loss, indicating that forest species
and savanna species have similar capacities in minimizing the effect of water deficits.
A study of wood anatomy (xylem) and its relation to water storage in this tissue of the
stem was also performed. For all species, the larger percentage of transversal area
xv
occupied by parenchyma, the greater the xylem capacitance. Despite similar values
of capacitance between the two functional groups, the cerrado species have a larger
area occupied by parenchyma than forest species, probably due to the different
elasticity of this tissue between the two functional groups. In structural terms, the
larger percentage of area occupied by the fibers wall, the larger the wood density.
The percentage of transversal area occupied by vessels was the same for the two
functional groups. The anatomical characteristics were largely conserved within
genus. Therefore, the majority of the characteristics related to water storage in the
stem did not differ between functional groups. The variations could be attributed to
differences between the genera, with little convergence in the attributes related to
capacity of water storage in the stem at the level of functional group.