Resumo:
Butia capitata ou coquinho-azedo é uma palmeira que ocorre em grandes manchas populacionais em áreas remanescentes de cerrado no norte de Minas Gerais. Seus frutos são muito apreciados para consumo, o que a torna muito atrativa aos extrativistas e pequenos agricultores da região que encontraram na exploração de seus frutos uma alternativa sazonal para o incremento de sua renda familiar. Duas populações desta espécie foram avaliadas quanto às suas estruturas ontogenéticas, distribuição espacial, banco de sementes, regeneração natural, fenologia, produção e características biométricas dos frutos. Foi investigada a influência sobre estes aspectos dos fatores ambientais, climáticos e históricos de manejo de cada área, representado pela intensidade de exploração dos frutos e predação pelo gado. Além dos aspectos ecológicos, foram descritos o processo de extração, beneficiamento e comercialização do coquinho-azedo. Todos os estádios têm padrão agregado de distribuição. O banco de sementes no solo é transitório e as sementes têm alta taxa de inviabilidade, predação e remoção. A grande similaridade ambiental entre as parcelas, a variabilidade na densidade de indivíduos e o alto grau de agrupamento sugerem que os fatores determinantes da distribuição atuam principalmente na dispersão das sementes e estabelecimento das plântulas. Além da relação positiva das plântulas com a luminosidade, não foi identificada influência das variáveis ambientais analisadas sobre a distribuição espacial, estrutural ou regeneração das populações, assim como não foi detectada influência negativa do extrativismo dos frutos. Por outro lado a pressão de predação e pisoteio do gado pode comprometer o recrutamento e até a viabilidade destas populações em longo prazo, mas as lentas taxas demográficas implicam na necessidade de avaliações mais prolongadas para assegurar esta afirmação sobre a viabilidade das populações. A produtividade de frutos é maior na população com plantas de menor porte, o que indica que a senescência afeta a produção de estruturas reprodutivas. A produção de folhas está uniformemente distribuída no ano, mas a fenologia dos eventos reprodutivos é influenciada pela chuva, a maturação e dispersão ocorrem em novembro. Foram identificados alguns problemas na cadeia produtiva, onde o transporte é o principal desafio. O extrativismo de coquinho-azedo é uma boa alternativa de renda para as famílias de pequenos produtores rurais da região e um estímulo a conservação do cerrado.