Resumo:
A atividade agrícola que se desencadeou no norte do Estado do Paraná a partir de 1920, em função da fértil "terra roxa", trouxe sérias conseqüências ao ambiente natural: a outrora contínua floresta estacional semidecidual foi rapidamente reduzida a pequenos e esparsos fragmentos florestais. A redução da área florestal foi tão drástica que atualmente restam menos de 2% da cobertura original. Extinção de espécies e alteração na comunidade faunística, especialmente em relação ao grupo aves, têm sido freqüentemente documentadas no Brasil, como no mundo, em paisagens compostas por fragmentos florestais (Willis, 1974, 1979; Bierregaard e Lovejoy, 1988; Vielliard e Silva, 1990; Anjos, 1992, 1994; Aleixo e Vielliard, 1995). Inexistem registros da fauna que habitava a região norte do Estado do Paraná antes da fragmentação. Mesmos expedições de naturalistas europeus não cruzaram a região. Entretanto, em entrevistas com pioneiros da cidade de Londrina, algumas espécies mais marcantes, como a harpia Harpia harpija, foram citadas como habitantes na região. Por outro lado, através destas mesmas entrevistas, espécies de espaços abertos como o joão-de-barro Furnarius rufus não eram conhecidas; estas aves foram possivelmente beneficiadas pelo aumento de superfície das áreas abertas, decorrente do desmatamento. Os efeitos da fragmentação florestal não são homogêneos nos diversos grupos faunísticos porque a utilização do fragmento pelos diversos taxa é bastante variável. Em relação aos recursos alimentares, muitos mamíferos (felinos) dependem mais do habitat matrix. Morcegos freqüentemente se alimentam de insetos fora dos fragmentos florestais. Primatas como o macaco-prego Cebus apella, no entanto, são claramente dependentes das árvores. A seguir são apresentados dados preliminares sobre os efeitos da fragmentação no norte paranaense com base em estudos de campo, enfocando o grupo aves, conduzidos a partir de 1993 em cinco fragmentos florestais na região de Londrina.