Resumo:
O plantio de açaizeiro (Euterpe oleracea) em área de terra firme constitui-se em alternativa para a recuperação de áreas alteradas, para a geração de renda e emprego, bem como para reduzir a transformação do ecossistema de várzea, mais frágil, em bosques homogêneos dessa palmeira. Nas várzeas do estuário amazônico, o manejo incorreto de açaizais nativos vem promovendo a derrubada “verde”, sem queima, porém com impactos ambientais que podem comprometer a diversidade da flora e da fauna desse ecossistema e, até mesmo, a produção de açaí. Em muitos locais dessas áreas manejadas, ocorre a construção de canais para facilitar a drenagem da água inundada pelas marés e o aumento da movimentação de barcos para o transporte de frutos provocando erosão nas margens e impactos para a flora e a fauna. A adoção da prática do manejo de açaizais em várzeas consiste na remoção da cobertura vegetal original em áreas em que se verifica a presença de açaizeiros e em competição com outras espécies. Alguns produtores efetuam a substituição integral da cobertura vegetal, deixando apenas os açaizeiros. Nas áreas liberadas pela remoção de outras espécies ou em que o açaizeiro ocorre em densidade baixa, é efetuado o plantio com plantas jovens de açaizeiros, oriundas da regeneração natural, ou com mudas produzidas para essa finalidade. Outros produtores efetuam substituição parcial da vegetação original, deixando os buritizeiros (Mauritia flexuosa) do sexo feminino, as samaumeiras (Ceiba pentandra), os cacaueiros (Theobroma cacao) e outras espécies que têm valor econômico. Apesar da imagem da sustentabilidade dos açaizais manejados nas várzeas na foz do Rio Amazonas, a expansão em larga escala desse sistema de produção, com o crescimento do mercado, esconde potenciais riscos ambientais em médios e longos prazos e da própria sustentabilidade da produção de açaí.